quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

AS VEIAS ABERTAS DE NEWTON BRITO * Antonio Cabral Filho - RJ

Professor Newton José Brito - SG/RJ

AS VEIAS ABERTAS DE TIBOR VONTEN
http://asveiasabertasdetiborvonten.blogspot.com.br/
*

Morangos mofados

Você chega e vem sempre trazendo um punhal,
que é pra poder ferir alguém mais uma vez.
Você chega e traz consigo seus demônios,
seus rancores que não consegue esquecer. 
Você chega contando as mesmas histórias,
todas elas carregadas de mentiras.
Você chega sempre com uma máscara,
tentando iludir as pessoas ao seu redor.
Você chega e carrega consigo um fardo de dor,
e por isso não pode nem quer conhecer o amor.
Você chega trazendo sempre uma caixa de morangos
mas não percebe que todos eles estão mofados.
Os morangos estão mofados...
Os morangos estão mofados...
Os morangos estão mofados...


Janeiro de 2012

*

domingo, 8 de fevereiro de 2015

ESCRITORES GONÇALENSES, ACORDEM! * Antonio Cabral Filho - RJ

ENTRELINHAS
Órgão da AGESC - Associação Gonçalense de escritores.

Ano I Nº 1 Setembro 1993
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Ano II Ago 1994 Nº 2
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Ano II jun 1995 Nº 3
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Ano III Nov 1995 Nº 4
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Segundo Fernando Pessoa, tudo vale a pena se a alma não é pequena. 
No período 1993-1995 eu e uma equipe de companheiros nos empenhamos em elevar São Gonçalo culturalmente. Lutamos como mosqueteiros, todos por um e um por todos. Editamos muita gente, realizamos muitos eventos, muitos lançamentos, shows, peças de teatro, seminários etc, mas notamos que nossos escritores, sobretudo escritores, não se inspiram em organizar-se. Sequer das nossas atividades, a maioria se omitia. Quiçá frequentar os órgãos oficiais da área cultural em prol de projetos.
Daí, chegamos a um estágio de constatação: Se os necessitados não querem, nossa luta prossegue por nós. E desarticulamos o projeto de uma entidade representativa da categoria escritores, fomos cada um editar nossos trabalhos individualmente, e, não raro, ouvir lamúrias de acomodados que esperam das "autoridades" os milagres que só eles podem realizar.

Nosso boletim ENTRELINHAS teve quatro edições em dois anos, sempre na tentativa de aglutinar mais escritores, divulgamos uma proposta de estatuto para a entidade e propusemos uma editora cooperativa para viabilizar quem quisesse editar, articulamos uma gráfica, produtores editoriais, rádios e jornais para divulgação, mas nem isso funcionou. 

Hoje, resido fora de São Gonçalo, mas os laços não se desfazem e continuo acreditando que nossos escritores merecem um patamar melhor. Gosto de apontar Niterói como exemplo, aonde trabalhei durante trinta anos e frequentei a vida cultural da cidade e fico desapontado quando iniciamos uma atividade em São Gonçalo e os colegas dizem "viemos só lhe dar um abraço que estamos indo pra nikiticiti", assim mesmo, colonizadamente, pois estão deixando de promover a sua cidade em benefício da outra, por mais que eu goste de Niterói.
Porém, a fé não se apaga e este blog é dedicado aos meus colegas e companheiros de militância cultural gonçalense. A todos o meu abraço!
*

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

ALFREDO SILVA - SONETOS BURLESCOS * Antonio Cabral Filho - RJ


ALFREDO SILVA: SONETOS BURLESCOS (PARA USO EXCLUSIVO DOS COLECIONADORES); não encontrei nenhuma data da edição, mas a folha de rosto vem assinada com a dedicatória acima, " Ao poeta Denoir   Oferta cordial de Alfredo Silva   28/05/91"; o carimbo embaixo informa a residência do insigne Autor Rua Zeferino Costa, 94 - Santa Luzia, Cep 24.400, São Gonçalo-Rj, com a impressão "3ª Edição. 
Denoir Souza, poeta e editor gonçalense, meu amigo e parceiro de madrugadas, ficou comovido com a verve do Alfredo e levou-me o livro para eu conhecer. Não tínhamos outro recurso diferente da xerox e tirei uma cópia. Começamos a lê-lo ali mesmo no DCE_UFF, entre uma e outras louras estupidamente geladas. Não deu outra, ficamos fãs do poeta e pensamos em buscá-lo para os meios etilíricos em que vivíamos, mas o mesmo revelou ser uma pessoa reservada. No entanto, pelas personalidades citadas em seus trabalhos, podemos perceber que se trata de gente articulada, pois conhece as pessoas certas, nos lugares e horas certas. Vejam só de quem ele tem declaração sobre seus SONETOS BURLESCOS: "Seus poemas fizeram  a minha alegria deste fim de semana. Além da graça, da ironia, a leveza suave da expressão. Gostei de todos eles, realmente admiráveis. Juscelino Kubitschek", além das demais personalidades, como Vasco José Taborda, Presidente da Academia Paranaense de Letras; de José Mendonça Teles, da Academia Goiana de Letras; do Professor Tito Filho, Presidente da Academia Piauiense de Letras; de Itassura Avena 
de Oliveira, Diretora Geral da UNIVALE - Unidades Integradas de Ensino Superior, e, para concluir, ninguém mais que uma celebridade das letras fluminenses, Professor Rubens Falcão, antologista e promotor de muita revelação literária nas terras papagoiabas, além de autor da ANTOLOGIA DE POETAS FLUMINENSES.
Mas se por um lado ALFREDO SILVA tem trânsito entre celebridades e políticos, por outro  vamos conhecer um escritor sem formação acadêmica, sem diplomas, sem o verniz dos bancos escolares nos fundilhos. Vejamos o que nos informa o "PREFÁCIO DA PRIMEIRA EDIÇÃO: Os sonetos que constam deste livrinho, conquanto selam alguns escritos em linguagem livre, não são imorais ou pornográficos, porque não há neles enredos indecorosos  ou conceitos indecentes; visam apenas a parte artística.
Aliás, a nosso ver, não existe soneto imoral. O soneto é uma composição tão curta que não comporta  o desenvolvimento de um tema imoral. Permite, quando muito, esboçar uma ideia, um conceito, de modo rápido e artístico.
Os referidos sonetos foram coligidos por admiradores da poesia burlesca de Alfredo Silva, que os mandaram imprimir para seu uso exclusivo.
Alfredo Silva nasceu na cidade de Leopoldina, Minas, em 09/02/10, mas se mudou para Niterói ainda bem jovem. Tendo seu pai abandonado o lar quando o poeta tinha apenas seis anos, teve ele que se empregar no comércio com pouca idade, para prover a sua subsistência  e a de sua progenitora.
Como inspetor de seguros, levou o poeta sempre vida de viajante e era com a sua poesia  irreverente e burlesca que procurava distrair e agradar a sua clientela, nas boates, clubes e botequins, por esses Brasis em fora...
Embora bem idoso, nunca pôde o poeta perdoar seu pai. Eis o soneto que lhe dedicou já na velhice: VERSOS A UM MAU PAI:

Queria, há muito, dedicar-te uma poesia,
e ei-la aqui, meu pobre pai velhinho,
e, dessa forma, censurar sem cortesia,
o teu procedimento irregular, mesquinho.

Um belo poema, certamente, eu te faria
se tu tivesse orientado o meu caminho,
faço-o, pois, na linguagem chã que eu aprendia,
na luta pela vida, a debater sozinho.

Tu foste muito mau, criei-me no abandono,
como um órfão de pai ou como um cão sem dono,
enquanto tu vagavas, como um cão vadio.

Teu caráter foi mau, teu proceder imundo,
foste o maior "filho-da-puta" deste mundo
e agora deves ir pra "puta-que-o-pariu"."

E, do "PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO: De certo modo, esta edição pode ser considerada a primeira, visto que a que lhe  antecedeu teve  uma tiragem muito reduzida e constou apenas de alguns sonetos  colecionados por amigos do autor ou admiradores de sua poesia burlesca.
Nesta segunda edição, os colecionadores fizeram nova  escolha dos sonetos, mas mantiveram o seu número reduzido, por medida de economia.
Desde que se aposentou, ALFREDO SILVA leva vida segregada. Espoliado pela Previdência Social, vive o poeta num bairro pobre de São Gonçalo, onde possui, uma das maiores bibliotecas particulares do antigo Estado do Rio.
Mas o isolamento não é a sua única excentricidade. Entre elas, resulta a de se considerar o inventor do aerobarco, embora nunca tivesse recursos para construí-lo e sempre afirmou possuir  provas de que a referida invenção  já o preocupava, desde o início do século.
É de sua autoria o seguinte soneto: A INVENÇÃO DO AEROBARCO:
Quando a barca de roda ainda navegava,
e o trajeto Rio-Niterói fazia,
falar em condução moderna era a mania
e até na ponte muitas vezes se falava.

Eu ia além. Quem sabe em que já eu pensava?
Pensava no irreal...Fazer a travessia,
em tempo em que ninguém imaginar podia.
Navegar fora d'agua era o que eu sonhava.

E hoje ao ver deslizar veloz o barco aéreo
(Muito embora ninguém talvez me leve a sério)
tenho o íntimo orgulho e a satisfação,

de me julgar como o primeiro ser humano
a ter, provavelmente, concebido o plano,
que permitiu realizar essa invenção."

Mas a revelação explicita-se cada vez mais pelo "PREFÁCIO DA TERCEIRA EDIÇÃO: Tendo sido a edição anterior insuficiente para atender a procura, o recurso foi imprimir novamente o livrinho, ao qual foram incluidos mais alguns sonetos, todos do gênero burlesco. OS COLECIONADORES".
Como podemos constatar, trata-se de alguém largado nos braços da mãe, no meio da estrada, por aquele que seria "pai...", mas que mesmo assim, ainda consegue dar a volta por cima, chega a inspetor de seguros no mundo profissional e marca sua passagem pelo ambiente letrado, graças à sua própria verve. Isso pode ser verificado a seguir no texto "DEDICATÓRIA, AGRADECIMENTO E HOMENAGEM DO AUTOR: Aproveito a oportunidade para prestar aqui uma homenagem póstuma a Luis Leitão(*)¹, genial mestre da poesia burlesca.
A exemplo dos meus sonetos, também os sonetos livres de Luis Leitão não são pornográficos, porque não há neles enredos obscenos. São livres apenas no que diz respeito ao uso de palavrões, que não ofendem a moral de ninguém, porque todo mundo, inclusive as crianças, ouvem-nos, por toda parte, a toda hora. Não sendo novidade para ninguém, o palavrão pode ser, quando muito, antiestético, deselegante e grosseiro, mas não chega nunca a ser imoral.
Eu nunca me envergonhei da minha poesia livre, porque foi com ela que eu, como inspetor de seguros, costumava ganhar o pão de cada dia, distraindo a minha clientela, quase sempre de milionários e potentados, pelos rincões longínquos desse imenso Brasil.
Além disso, os meus sonetos, bons ou maus, são a única cousa que ficará da minha passagem pela vida; as horas que lhes dediquei são, pois, as únicas que talvez não tenham sido perdidas.
Dedico,pois, este livrinho a todos aqueles que tiveram a desdita de adotar profissão semelhante à minha, a quem a poesia livre, burlesca, ainda poderá ser útil. Por esses estou certo de que serei lembrado, não nas academias literárias ou nas antologias nacionais, mas nas boates e nos imensuráveis  botequins desse vasto Brasil. Isso ocorrerá até que venha uma nova era, que, aliás, já se aproxima, na qual não haverá mais magnatas e, assim, ninguém mais terá que andar pelas boates  e clubes a pagar uísque escocês  e a recitar poesia  livres para deleites de nababos, quase sempre estúpidos e boçais.
Dedico também esses meus sonetos livres a meu pai, porque eles refletem bem a minha falta de educação e instrução que ele não soube me dar.
A publicação deste livrinho, já na minha velhice, tem para mim o sabor da retirada de uma luta longa e dura, da qual só me restam dolorosas recordações, luta essa que eu encerro, repetindo a palavra sublime expressa por Cambrone  na hora da derrota em Waterloo: Merda.
Cumpre-me agradecer aos colecionadores pelo interesse demonstrado na escolha e publicação desses meus sonetos.
Finalmente, transcrevo, a seguir, a obra-prima de Luis Leitão, o mais belo soneto burlesco do nosso idioma, homenageando desta forma a memória daquele saudoso poeta fluminense.  Esta homenagem não é só um preito de admiração, mas até de gratidão, pois, com o referido soneto, consegui adquirir interessantes amizades, durante o curso da minha itinerante vida profissional, tendo, frequentemente, de repeti-lo várias vezes, tal o entusiasmo que suscitava no auditório das boates, clubes e botequins dessa nossa Pátria imensa. Ei-lo: O CARALHO

Caralho pai de todos os mortais,
consolador de pombas e bocetas,
alma dos cus e coração das gretas
e arrimo de todos os casais.

Procura tratar bem esse rapaz,
com esse moço, amigo, não te metas,
porque na hora das cagadas pretas,
não há tabaca que ele deixe em paz.

Nos domingos e dias feriados,
dias das fodas de culhões puxados,
foi com quem tua mãe sempre se viu.

Com esse cara, pois, eu não me meto,
ele é meu pai, teu pai, pai do soneto,
e pai também da puta-que-o-pariu."

Perfeito. A partir daqui, começa a obra do Alfredo Silva, com " RESSALVA DO AUTOR: Os meus sonetos burlescos foram, muitas vezes, inspirados em anedotas ou trovas folclóricas, razão por que, nesses casos, sempre faço constar, que se trata de paródia ou paráfrase. Não obstante isso, faço aqui esta ressalva."

AOS VELHOS

Há quem tenha a velhice no melhor conceito,
tendo por ela grande estima e grande amor,
merecedora, pois, de especial respeito.
De consideração até. Veja que horror!

Sinto muito, mas não, não penso desse jeito
e tenho pelos velhos o maior rancor,
são ruins quase sempre e cheios de despeito
e inspiram-me, por isso, muito mau humor.

No entanto, essa maldade é cousa natural,
pois que é um fenômeno de fundo sexual
e eis a razão por que os velhos são escrotos:

É que nós temos sempre que foder alguém
e todo velho que não fode mais ninguém,
dá é pra foder o espírito dos outros.
*&*
COMEÇO DE DESAFIO
Parodiando o folclore nordestino

Maria Rita, cantadora nordestina,
ao ver Romano, campeão dos cantadores, 
quis provocar esse maior dos contendores
e a rixa começou com essa expressão ferina:

"Dez vezes fui casada já, desde menina,
dez homens conheci. São todos meus amores!
Pois creiam que é verdade pura, meus senhores!
Sou virgem como a rosa ou a Vestal latina",

Romano respondeu numa expressão feliz:
"Não é difícil deslindar essa falseta,
se ainda é virge, Sinhá Dona, como diz,

Só uma cousa nisso tudo se explica,
ou foi vancê que veio ao mundo sem buceta,
ou esses home é que talvez não tenham pica".
*&*
COUSAS DA VELHICE DECRÉPITA

Há "caras" cujo "hobby" é acumular
livros, de que mal lêem as capas e os costados
e há, por aí, velhos senis que são casados
com garotinhas novas a debochar.

Esses sujeitos, no meu modo de pensar, 
deviam, a rigor, ser presos e julgados,
pois retirar, em vão, artigos dos mercados
é crime contra a economia popular.

Esses "caras" cretinos das bibliotecas
e esses velhos "gagás" casados com bonecas
têm um procedimento, enfim, que se aproxima,

já não trepam, nem sabem ler, essa é a verdade,
retêm o material somente por vaidade,
são os tais que nem fodem e nem saem de cima.
*&*
NÃO DEIXEM DE MANDAR BRASA
À mocidade brasileira

Cousa comum é na velhice a hipocrisia,
vício de  que ela não sabe se abster,
pois que censura a mocidade por fazer 
aquilo que, se ela pudesse, ainda faria.

Por isso recomenda a sã filosofia,
na conversa de velho o moço nunca crer,
por melhor aparência que ele possa ter,
no fundo, só cogita é de patifaria.

Meu modo de pensar é muito diferente,
sempre procuro aconselhar a toda gente,
que deve é mandar brasa mesmo de verdade;

pois, o maior prazer que eu tenho na velhice,
é recordar a minha alegre meninice
e as brasas que mandei na minha mocidade.
*&*
O AMOR DO VELHO TRANSVIADO
Ao poeta Jaci Pacheco(*)²

A robustez, o amor e a beleza
são os dons mais comuns da juventude,
que, de acordo com as leis da natureza,
se arrefecem na decrepitude.

É na fase de força e de destreza
que impera o Amor com a máxima amplitude,
e, no encanto núbil, com certeza,
tem a mulher sua maior virtude.

Mas o velho senil, retardatário,
não se conforma, não, cousa esquisita,
embora banque o paspalhão, o otário.

Nunca tem vez em cousas de mulher,
"pois sofre sempre que a mulher o evita
e sofre muito mais quando ela quer".
*&*
MAL SECRETO
Paráfrase de uma paródia

Se o estado em que a cona se apresenta,
pela expressão do rosto de notasse,
quanta babaca suja e fedorenta
o semblante talvez nos revelasse.

Se a gonorréia cruel e purulenta
deixasse algum vestígio pela face,
quanta dona, afinal, que inda nos tenta,
então piedade e nojo nos causasse.

"Quanta moça que usa bons extratos
tem os pentelhos ruídos pelos chatos
e a babaca a feder engalicada".

Quanta moça que diz que inda é donzela
traz a vagina cheia de mazela
e aos trouxas parece não ter nada.
*&*
AS RAÇAS DE ZEBU

Quando se fez, da Índia, a importação de gado,
gozava o boi zebu de toda preferência,
e os criadores, cada qual pelo seu lado,
da sua raça proclamava a excelência.

De acordo, assim, com cruzamento apropriado,
cada raça era feita, pois. Em consequência,
havia a raça indo-beraba e o gir malhado
e a raça indo-brasil, primeira em corpulência.

Cruzando o boi zebu com a vaca caracu,
João Carlos fez a raça a que chamou zecu,
aproveitando os dons da mãe e os dons do pai.

Se alguém lhe perguntava a origem da palavra,
dizia ser zecu da sua própria lavra,
pois que tirara o "zé" do pai e o "cu" da mãe.
*&*
APTIDÃO MATEMÁTICA
À matemática Lúcia Silva

Nessa velha questão para saber quem tem
mais propensão para aprender a matemática,
muitos pensam ser o homem mais capaz, porém,
adotam, a meu ver, opinião asnática.

Cá pra mim, a mulher, só ela e mais ninguém,
é a maior e, nesse assunto, é catedrática,
desde que seja nova, como nos convém,
e não se trate, é claro, de uma velha asmática.

Sendo nova e bonita, então, é um perigo,
não se engane com ela e ouça o que lhe digo:
Sabe, na certa, calcular melhor que nós,

pois, só ela é capaz de ter a competência
de um membro elevar à mais alta potência
e à expressão mais simples reduzi-lo após.
*&*
A VELHA RIXA
(De baianos com pernambucanos
parodiando o folclore nordestino.)

Além de elogiarem os recantos
da sua terra, às vezes despeitados,
zombam os recifenses dos encantos
da terra dos baianos. Não apoiados!

"Bahia, dizem, de todos os Santos,
das mulatas com saias de bordados,
merda fedendo por todos os cantos,
pretos imundos por todos os lados".

Ao que um baiano logo respondeu:
"Pernambuco, querido, tu es meu,
recife, capital pernambucana,

das cabrochas bonitas, gente enxuta,
onde em cada janela há uma puta,
e em cada esquina, em pé, há um sacana".
*&*
VERSOS ÍNTIMOS
(Parodiando Augusto dos Anjos,
ao Domingos, livreiro amigo.)

Vês? Ninguém viu(mas por aí murmura)
o fracasso da tua última trepada,
somente uma brochura amargurada
te acompanhou na tua desventura.

Acostuma-te à nova conjuntura,
quem, nessa livraria empoeirada,
convive com a velhice transviada,
vai também caminhando pra "broxura".

Toma um fósforo. Acende teu charuto,
fumar cigarro é diversão de puto,
foi o que o Odilon*, há muito, viu.

Se alguém pensar de modo diferente,
na certa, deve ser cabra indecente,
manda esse cabra a puta-que-pariu.
* - Odilon Lima, nunca largava o seu charutinho.
*&*
SONETO BRANCO - BRASILEIRO
(Dos bons tempos de estudante)

Dois jovens, em Paris, num dia que passou,
combinaram, trataram, veja só se crê!
O que casasse informar,logo que casou,
se a noiva era furada. Veja só você!...

Casando-se um, ao outro assim telegrafou,
eis: "Pachyderme, pas payé, citron pressé,
mari trompé". E nada mais acrescentou...
Quem saiba dar a explicação, enfim, que dê.

Vou decifrar a coisa aqui pelo meu jeito:
Pachyderme, "elefant" e pas payé é "dû";
Citron pressé é "jus"; mari trompé, "cocu".

"Elefant, dû, jus, cocu". Deve estar direito...
e dando à voz, enfim, melhor entonação:
"Elle est fendue'au cul". Eis a tradução.
*&*
A SANTA INSTITUIÇÃO DO MATRIMÔNIO
Parodiando um poeta desconhecido

Eu conheci uma mulher casada,
e conheci também o seu marido,
ela era o tipo da mulher safada
e ele o tipo do corno convencido.

O casamento é uma lei sagrada,
patrocinada pelo deus Cupido
e ultrajar essa lei imaculada
é obra de canalha e de bandido.

Se você, pois, souber de alguma dona,
cuja reputação ninguém abona
siga os princípios que a moral aponta,

fuja dessa mulher, desse demônio,
respeite a santa lei do matrimônio,
"e deixe essa mulher por minha conta".
*&*
SOLILÓQUIO DE UM VISIONÁRIO
(Parodiando Augusto dos Anjos)

Para desvirginar um cu bonito,
depois de prometer guardar mistério,
comi o cu da mãe do Benedito,
por trás do muro lá do cemitério.

O prazer que meu esse delito
transformou por completo o meu critério,
fico pulando assim como um cabrito
ao ver o cu da mãe do João Silvério.

Toda sorte de atos indecentes,
praticando com vivos e ausentes,
comi muitas babacas virginais.

Comia tudo pelo mundo além,
e se hoje já não como mais ninguém,
é que o cacete já não sobe mais.
*&*
MUSA PORNOGRÁFICA
Paródia suja

Estava eu em minha mesa, no escritório,
quando uma Musa pornográfica, indecente,
entrou na sala, esculhambando toda gente,
dizendo nomes do mais baixo repertório.

Continuando o insólito destampatório,
esculhambou a mim e ao pessoal presente,
mandou tomar no cu a todos do ambiente
e a "puta-que-pariu" a todos do auditório.

Sentindo, de repente, a inspiração poética,
peguei na pena, com a mão ainda frenética,
traçando o poema que a malvada me inspirou.

Musa ordinária, a mais cretina do universo,
mas foi assim que eu consegui fazer um verso,
"por causa dela este soneto aqui ficou".
*&*
A LÍNGUA PORTUGUESA

Aqueles que têm muita educação e estudo
podem julgar as cousas bem melhor que a gente,
enquanto eu, que sou ignorante em tudo,
costumo vê-las por um prisma diferente.

Espírito mais vivo devem ter e agudo,
percepção talvez mais penetrante e ardente,
capaz de captar acordes de veludo
e as belezas sem par do linguajar fluente.

Bilac achava a "Flor do Lácio inculta e bela",
eu, são os palavrões o que admiro nela,
que julgue cada um as cousas como viu.

Não conheço expressão mais cheia de energia,
do que a frase arrogante que pronuncia,
quando se manda alguém a puta-que-pariu.
*&*
O VERÃO CARIOCA

No Rio de Janeiro ao chegar
o tempo quente, o tempo do verão,
não há garota que não queira dar,
nem mulher que não fique com tesão.

A sacanagem, assim, é de lascar,
é tanta a putaria e a trepação,
que até dá gosto a gente ver entrar
o "funcionário" na "repartição".

A bacanal, então, é violenta,
todo mundo se anima e movimenta
e há quem trepe até  no meio da rua.

E com o calor, enfim, tudo desanda,
até o jacaré no seco anda
e jumento também na bunda sua.
*&*
BICHO CABELUDO
Parodiando o folclore nordestino

Dizem que um tal de "Seu" Manuel Sinhô,
estando um dia no mato agachado,
e, como estava muito descuidado,
chegou um bicho e no seu cu entrou.

Saiu, mas logo outra vez voltou,
e acha-se lá dentro "emburacado".
Dizem que o bicho tem coro pelado,
foi o que todo mundo observou.

Pé cabeludo e cabeça tesa.
Porém, nos informou a velha Chica,
se o bicho tiver capa de pelica,

criada pela própria natureza,
ela pode afirmar e com certeza,
que esse bicho feroz se chama "pica".
*&*
DIFICULDADE ORTOGRÁFICA
Aos "linguistas" nacionais.

As comissões encarregadas de reforma
de ortografia têm certa dificuldade,
para resolver bem alguma novidade
de que desconhecemos o aspecto e a forma.

O termo "pica-pau" pode servir de norma,
cuja acentuação dá motivo, na verdade,
à grande confusão, luta e animosidade, 
em que o trabalho dos linguistas se transforma.

Os glotólogos, mesmo os de maior talento,
não concordaram com o lugar de pôr o acento,
ficando o termo sem qualquer acentuação.

Por falta, ao que parece, de melhor lugar,
pois que na "pica" o acento ninguém quis botar
e nem no "pau" ninguém quis pôr, com mais razão.
*&*
BATIZADO JAPONÊS
À colônia japonesa

Ontem foi o batismo do filho de Fu,
na capela pequena da Cruz do Mosteiro,
muita festa houve em casa e bebida e peru,
e o churrasco à gaúcha enfeitava o braseiro.

Foi no nome do filho que deu o sururu,
por ter significado não mui lisonjeiro,
pois a mãe era Tsê Suru Cutucucu
e o pai Sr Fu Co Ata Coara (brasileiro).

Discutia-se, assim, sobre o nome do filho,
o que todos queriam distinto e com brilho,
condizente com a grei, importante e preclara.

Eis que o pai, finalmente, explicou com atenção,
que o nome do filho, com toda a razão,
era, pois, Fu Cutucucu Co Ata Coara.
*&*
OS REQUEBROS DA MENINA
Parodiando o folclore nordestino

Diga menina, vá logo dizendo,
me diga aqui no ouvido bem baixinho,
por que fica você em desalinho
quando vê argum home a quereno?

Fica se balançano, remexeno,
requebrano os quadris devagarinho,
pensa tarvez que aqui o papaizinho,
num tem ôio também e num tá veno?

Se eu fosse autoridade de valô,
eu prendia esse seu remexedô.
E depois de ele estar bem amarrado,

Seguro muito bem pela viria,
eu dizia: Requebre minha fia,
remexa agora aqui pro delegado.
*&*
OS NOMES DO SR. PINTO
A Moacir Tavares Pinto

Vamos tentar aqui, em verso, descrever
os vários nomes que o "Seu" Pinto deve usar,
e, em cada época da vida que viver,
dar uma alcunha que lhe possa adaptar.

Será Incio Pinto antes de nascer,
ao nascer, Nascimento Pinto, há de chamar,
Crescêncio Pinto ao crescer, desenvolver,
Valente Pinto quando um homem se tornar.

Armando Pinto ao marcar o casamento,
Botelho Pinto já na noite do casório,
Constâncio Pinto, enquanto firme se encontrar.

Décio Pinto na fase já do desalento,
e Caio Pinto ao cair-lhe o acessório,
Serafim Pinto, quando o Pinto se findar.
*&*
BRASIL ATUAL

Em Pernambuco há o roubo da mandioca,
no cacau da Bahia o roubo polonês,
os roubos em São Paulo diários da Moca,
no Rio, mais de mil assaltos cada mês.

Enquanto o trocador tapeia o carioca,
rouba o comércio sempre o infeliz freguês,
e enquanto que o país inteiro anda à matroca,
rouba o governo todo mundo de uma vez.

E o dinheiro mandado agora ao nordestino,
será que chega integralmente ao seu destino?
Que fique o presidente, pois, bem avisado:

Se há patentes altas nessa roubalheira,
pois se, de fato, há generais nessa sujeira,
prova que está o roubo "generalizado".
*&*
A POESIA MODERNISTA

A Semana chamada de Arte Moderna
teve, em geral, efeito inovador profundo
e trabalhou com fé e inspiração superna,
tal qual o Padre Eterno quando fez o mundo.

Mas, ao dar à poesia uma feição hodierna,
transformou-a talvez num aranzel jucundo;
pois, sem a métrica e a rima que o governa,
tornou-se o poema, quase sempre, nauseabundo.

Sucede ainda, todo poeta do passado
a plano inferior seria relegado,
Hugo não passaria de principiante;

e, certamente, ao autor do Dom Casmurro
seria conferido o diploma de burro
e Bilac seria um mero diletante.
*&*
O DIALETO AFRO-BRASILEIRO

Tudo, de preto, no Brasil, tem outro nome.
Reparem, pois, no que lhes digo, com atenção,
que vão verificar que, enfim, tenho razão:
O branco almoça, janta e lancha; o preto come.

Branco magro é doente; preto passa fome.
Se o branco corre é pra pegar a condução;
se o preto corre, "pega, pega que é ladrão",
branco fica doente e morre; o preto some.

O branco tem o seu amor, o preto fode.
O branco cheira a gente; o preto cheira a bode.
branco diz o que vê e o preto o que não viu.

Branco defeca ou faz cocô; o preto caga.
O branco, se aborrece, amua e roga a praga;
o preto xinga logo "à puta-que-o-pariu!"
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Tenho dito nas 'APRESENTAÇÕES' dos autores por mim abordados, que não sou caçador de recompensas, para fazer juizo de valor às custas dos seus trabalhos, mas ALFREDO SILVA é a pura prova do que tenho justificado com os PERFIS que venho fazendo, que vêm provar  a importância do AUTODIDATISMO na formação intelectual. Nomes como o de Jacob Gorender, autodidata em História, é um ótimo exemplo fora do mundo literário.
*¹ - Luis Leitão:
*² - Jaci Pacheco:
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